Revista Shopping Centers ABRASCE 30 anos Ano 28 Número 137 Pág.46
23.02.07 · 11:18
ARQUITETURA BIOCLIMÁTICA
‑ O MAPA PARA O FUTURO ‑
A relação direta que há entre a Arquitetura de shopping centers e a eficiência energética da edificação merece análise, pois grande parte dos custos de operação é decorrente do partido adotado pelo projeto de Arquitetura. Considerando a economia de energia que alguns estudos podem gerar para o país e conscientes de que planetariamente estamos todos envolvidos, mais importantes ainda se tornam.
Pelo ponto de vista da Arquitetura, muitos shoppings brasileiros existentes hoje poderiam estar situados em território norte-americano, que lá permaneceriam integrados na paisagem, tal é a identificação entre as edificações daqui e de lá. Caracterizam-se por um estilo internacional que independe das particularidades e materiais do país ou da região onde se localizam. As fórmulas arquitetônicas se assemelham e é inquestionável que todos os sistemas sejam artificiais.
Houve época em que nos shoppings era proposital distanciar o cliente do exterior, sendo o prédio uma caixa fechada, mantinha internamente condições uniformes de luminosidade e de temperatura, pois era crença que esta artificialidade conduzia ao consumo. É provável que mais do que o artificial era o planejamento comercial e a novidade o que atraía, pois logo iniciaram-se as revitalizações permitindo a entrada da luz natural e progressivamente os shoppings centers têm cada vez mais se tornado expostos ao ambiente que os circundam.
A Arquitetura Bioclimática é aquela que considera o meio ambiente e os fatores climáticos locais para através de métodos passivos, que são os que independem de equipamentos eletro-mecânicos, gerar na edificação condições de conforto térmico, lumínico e acústico para o usuário. Aliada ao marketing, que pesquisa os valores sociais e culturais dos clientes em potencial e conjugada a sistemas artificiais a Arquitetura Bioclimática se torna o caminho natural para o desenvolvimento de prédios mais eficientes.
As soluções arquitetônicas que baseiam-se em métodos passivos são de tal simplicidade, que o mundo tecnológico em que vivemos, durante muito tempo não nos permitiu considerá-las. Contudo, os alertas dos cientistas quanto a aquecimento global e falhas no sistema de fornecimento de energia têm incentivado o estudo de alternativas buscando a diversificação energética.
Durante a crise de distribuição de energia de 2001, a própria Abrasce se manifestou buscando a economia e a geração de energia a partir de fontes alternativas.
A localização geográfica, a topografia do terreno, o movimento do sol, ao longo do dia e do ano, os ventos dominantes, a variação térmica, a vegetação nativa, a umidade relativa, os níveis de pluviosidade são preciosos condicionantes a determinar o tipo de projeto arquitetônico que gera conforto ambiental, a ser testado por meio de recursos de simulação energética, tornando-se mais preciso para acolher o programa estabelecido para o shopping center, seu tenant mix e posicionamento de marketing, e a cumprir seu objetivo de atrair, instigando o arquiteto na responsabilidade de – com seu traço ‑ alterar de forma definitiva a paisagem urbana.
O conceito de prédio verde, difundido na Europa, utiliza recursos tais como: a captação da energia solar ou a geração através de painéis fotovoltaicos para aquecimento, o uso racional da água potável com reaproveitamento das águas usadas em pias nas descargas, a coleta de água de chuva para a lavagem de pisos e promove toda a redução do desperdício, inclusive dos resíduos. Muitas são as possibilidades que dependem da criatividade dos profissionais envolvidos para desenvolver técnicas construtivas e soluções inusitadas que promovam o bem estar do usuário e a facilidade e economia na manutenção da edificação.
Considerando que a maior parte da energia elétrica é gasta na iluminação e na climatização, soluções de iluminação e de ventilação naturais obtidas através de aberturas que devidamente posicionadas criam áreas de sombra e de luz ou pressão interna forçando a movimentação do ar e métodos de sombreamento ou insolação das fachadas, dependendo do clima, para isolar termicamente as lojas, diminuem esses gastos.
Programas de computação existentes simulam o desempenho das diversas combinações de soluções propostas, permitindo a avaliação do nível de conforto atingido e disponibilizam um panorama do custo-benefício do partido arquitetônico adotado, tornando-se importantes auxiliares do projeto. Nota-se também que a faixa de conforto para sistemas naturais é mais ampla do que a exigida para os sistemas artificias, onde níveis de iluminação e de temperatura devem se manter constantes.
Nesses estudos reside a possibilidade de autonomia ou de menor dependência da edificação em relação ao fornecimento de concessionárias ou de serviços de infra-estrutura urbana e conseqüente maior controle dos custos internos.
A utilização de energias renováveis não requer tributação financeira, requer apenas planejamento e estudos iniciais mais aprofundados, mas que podem se tornar grandes geradores de economia durante toda a vida útil do prédio.
Recentemente o uso e a geração de energia limpa se tornaram capazes de gerar recursos com a venda de créditos de carbono para as nações desenvolvidas, conforme instituiu o Protocolo de Quioto, através do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. Portanto, se já existe até mercado para este tema, os shopping centers brasileiros, especialistas em bons negócios, poderão se tornar líderes da sociedade quanto à conscientização de uma vida saudável para o planeta e assim garantir um futuro para todos nós.
Virgínia Portugal jul 2006 Arquiteta, cursou a 1a turma do MBA em Shopping Centers da FGV.
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